Por: Gabrielly Souza
Notícia
Publicado em 01.07.2025 | 17:34 | Alterado em 01.07.2025 | 17:56
“Nós não invadimos terras, apenas ocupamos o que sempre foi nosso. Terras que pertenciam aos nossos antepassados”, afirma o cacique Gilberto Awá da etnia tupi guarani. “A terra é nossa, é dos povos indígenas.“
A fala cheia de resistência inicia o curta-documentário “Herança do Amanhã”, dirigido por Vanessa Corrêa, 43, e produzido pelo biólogo Rodrigo Maia, 39. A produção vem ganhando destaque em festivais no Brasil e no exterior.
Gravado na região do Cabuçu, em Guarulhos, na Grande São Paulo, o documentário aborda questões urgentes como o descarte irregular de resíduos sólidos em áreas de preservação e a luta dos povos indígenas da cidade pela proteção e regeneração dos territórios.
Descarte irregular de lixo no Rio Cabuçu @Rodrigo Maia/Divulgação
O filme estreou no festival EcoPerformance, com sessões nas cidades de Pinamar, na Argentina, e Petroșani, na Romênia. No Brasil, já foi exibido em Goiânia e segue em circuito por São Paulo.
Segundo os autores, o objetivo é ampliar o debate sobre justiça ambiental, memória ancestral e os impactos da degradação ambiental nas periferias.
Rodrigo, que mora no Cabuçu desde 2002, utiliza o filme como forma de diálogo com a cidade e de denúncia.
João, morador da Área de Proteção Ambiental na região @Rodrigo Maia/ Divulgação
‘Trouxemos para a tela a realidade vivida pela nossa comunidade. Esperamos gerar visibilidade e conscientização sobre os serviços ambientais, fundamentais para a qualidade de vida de toda a cidade’
Rodrigo, produtor do curta-documentário
Localizado na zona norte de Guarulhos, o bairro do Cabuçu tem importância histórica e ambiental. Considerado um dos mais antigo da cidade, abriga uma das maiores áreas verdes do município: são 7,9 milhões de hectares de mata preservada.
A mata integra o Parque Estadual da Cantareira – Núcleo Cabuçu, segundo o Guia de Áreas Protegidas da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo.
A relevância ambiental da região motivou, em 2009, o biólogo e produtor do curta Rodrigo a se unir a outros ativistas e lideranças comunitárias em um movimento pela criação de uma área de proteção ambiental no bairro.
Filme tem ganhado repercussão em eventos nacionais e internacionais @Rodrigo Maia/ Divulgação
O esforço resultou, em 2010, na instituição da APA (Área de Proteção Ambiental) Cabuçu Tanque-Grande, por meio da Lei Municipal nº 6.798/2010.
Desde então, o Cabuçu tem sido palco de debates sobre meio ambiente e justiça socioambiental. Entre os temas em discussão estão a possível instalação de um aterro sanitário nas proximidades e a situação de comunidades indígenas que vivem em uma área historicamente afetada pelo descarte irregular de lixo hospitalar.
Essas tensões inspiraram a produção do curta-metragem que retrata a realidade da região com uma abordagem sensível e crítica.
A produção mistura cenas da vegetação nativa com registros de áreas degradadas, expondo a contradição entre preservação e destruição. Também aborda o trabalho de recuperação do solo realizado por comunidades indígenas, com apoio de estudantes e instituições.
O filme já foi exibido em escolas da região e na aldeia Filhos Desta Terra, reserva onde vivem os povos Pankararu, Pankararé, Guajará, Tupi e Timbira, está localizada também no bairro do Cabuçu.
Segundo Vanessa, também moradora do Cabuçu, nessas sessões, é comum que crianças reconheçam o bairro e até pessoas entrevistadas. Para ela, isso fortalece a identificação com o território e incentiva o engajamento local.
“Vivemos um momento crítico de crise ambiental e consumismo excessivo. Levar essa discussão para o cinema é provocar um debate que ainda precisa acontecer de forma mais ampla”, afirma a diretora.
Sinopse:
Herança do Amanhã revela os impactos do descarte irregular de resíduos sólidos no bairro do Cabuçu, em Guarulhos. O curta documenta como o avanço do lixo ameaça a Mata Atlântica e compromete a saúde da população local, ao mesmo tempo em que evidencia a luta dos povos originários por moradia digna e preservação ambiental. A produção propõe um olhar crítico e sensível sobre os desafios ecológicos e sociais que marcam a região.
Jornalista. Com um pé imerso na cana-de-açúcar do Pernambuco. Defensora da arte e cultura nas periferias.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.
Envie uma mensagem para [email protected]