Dino
Por: Simony Maia
Notícia
Publicado em 25.07.2025 | 8:10 | Alterado em 25.07.2025 | 17:50
Tânia Maria Pereira da Silva, 53, simboliza a luta diária por direitos, reconhecimento e igualdade. Também conhecida como Tânia Dandara, ela é uma das lideranças femininas em Diadema, no Grande ABC, que atua no combate contra o racismo em um dos municípios com maior população negra na região metropolitana de São Paulo.
Nesta sexta-feira, 25 de julho, é celebrado o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, data que marca a luta e protagonismo das mulheres negras em toda a América Latina. Tania é uma delas.
A diademense é coordenadora do Fórum de Promoção da Igualdade Racial “Benedita da Silva”, um espaço coletivo e gratuito formado por diversos movimentos negros da região. O Fórum, fundado em 2012, promove ações de combate ao racismo, à discriminação e ao preconceito.
Nele são feitas palestras, workshops, debates e formações semestrais sobre a história da África com a participação de professores, militantes e representantes da sociedade civil na Câmara Municipal de Diadema.

Tania Dandara em uma palestra no Curso de Formação de História da África e Cultura Afro Brasileira @Arquivo Pessoal
“É muito importante que existam espaços como esses para se abrir o diálogo para questões raciais, principalmente na periferia onde está o maior número de meninos e meninas negras que são alvos”, relata Tânia.
De acordo com dados do Censo do IBGE de 2022, em Diadema, 53,9% da população se autodeclara como preta e parda – sendo o segundo município do ABC com mais habitantes deste grupo racial, só ficando atrás de Rio Grande da Serra.
Integrante de movimentos negros desde os 19 anos, a militante recebeu “Dandara” como nome de batismo, sendo uma homenagem à importante líder quilombola Dandara, uma quilombola que viveu no Quilombo dos Palmares na época da escravidão no Brasil. Ao lado de seu marido, Zumbi dos Palmares, ela liderava as tropas palmaristas contra os portugueses que planejavam destruir o quilombo.
Mas, apesar de atualmente ser uma referência no movimento negro local, Dandara nem sempre se reconheceu como uma mulher negra. O despertar ocorreu somente na juventude, após sofrer um episódio marcante de racismo.
“Eu trabalhava em uma loja no setor de contas a pagar e receber. Um dia fui fazer um depósito no banco, chegando lá, a porta giratória travou. O segurança me olhou e disse: ‘Como uma pessoa da sua cor conseguiu tanto dinheiro?’. Na hora fiquei sem palavras”, relembra.
Ela conta que foi nesse momento que entendeu o peso de ser quem é.
‘Percebi que a cor da minha pele chegava antes do meu caráter, da minha competência, e eu não podia estar despreparada quando outros casos acontecessem’
Diante da situação, Tânia se filiou ao Movimento Negro Raízes da África. Motivada pela vontade de transformar a realidade dela e das pessoas ao seu redor, ela voltou a estudar, formou-se em psicologia e concluiu uma pós-graduação em Gestão Hospitalar.

Grupo Batuque Abayomi em uma apresentação em Diadema ao lado de Emicida. @Arquivo pessoal
Para Tânia, o movimento negro ocupa um papel fundamental na periferia, principalmente em assuntos relacionado às mulheres pretas. “Em Diadema, grande parte das mulheres negras são mães solo e o movimento debate políticas públicas que contemplam elas, como empreendedorismo e cursos profissionalizantes”
Ela conta que um dos seus principais objetivos dentro do movimento negro é lutar pelos direitos das mulheres negras, para que elas possam ser respeitas e valorizadas.
Além do trabalho realizado no movimento, Tânia também é integrante do grupo Batuque Abayomi, composto por mulheres que usam o batuque como referência. “Nós usamos este espaço como um meio de diálogo permanente, onde discutimos gênero, raça e descriminação”, conclui a militante.
Apesar de avanços, Tânia destaca que muitos casos de racismo ainda não são denunciados por medo, descrença na justiça ou falta de informação. “As pessoas acham que não vai dar em nada.”

Dandara em palestra na AOB de Diadema @Arquivo Pessoal
“Mas quando o Fórum é procurado, orientamos imediatamente que se registre um boletim de ocorrência, que a denúncia seja feita no SOS Racismo da ALESP, e acompanhamos todo o processo”, afirma.
E, para Dandara, somente uma frase de Angela Davis pode resumir a trajetória até aqui: “Não aceito mais as coisas que não posso mudar, estou mudando as coisas que não posso aceitar”.
Jornalista que se aventura pelo universo das redes sociais falando sobre política, cultura e entretenimento. Em busca de sempre vivenciar novas trocas para contar boas histórias. Correspondente de Diadema desde 2023.
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