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Agência de Jornalismo das periferias

Isabela do Carmo /Agência Mural

Por: Isabela do Carmo

Notícia

Publicado em 13.09.2024 | 15:19 | Alterado em 13.09.2024 | 15:19

Tempo de leitura: 3 min(s)

Após a maior favela da capital paulista completar 50 anos de existência, em 2021, foi anunciada a construção do Parque da Cidadania de Heliópolis, ainda na gestão do ex-governador João Doria (PSDB).

A conclusão da primeira fase das obras estava prevista para o primeiro semestre de 2022, entretanto, o cenário é o contrário: há duas quadras de esportes e uma de skate abandonadas e banheiros com entulhos. Apenas a terraplanagem do terreno foi finalizada.

Situado em frente à construção do Parque da Cidadania de Heliópolis, José Luiz da Silva, 48, morador da comunidade desde 1986, pensou que poderia ser um espaço em que pudesse brincar com as filhas, Gabriela, 10, e Giovanna, 12.

“[Saber da construção do parque] foi muito bom porque é uma melhoria para a gente. Porque, no momento, se a gente quiser algum lazer de qualidade, a gente tem que se deslocar até o Museu do Ipiranga ou para o parque Chico Mendes, em São Caetano do Sul”, explica.

José Luiz da Silva no espaço que deveria ser o Parque para diversão, mas está com acumulo de lixo @Isabela do Carmo /Agência Mural

Da sacada de casa, Silva consegue avistar nitidamente o acúmulo de lixo, poças d’água e o tamanho do mato – que em alguns pontos ultrapassam a própria altura.

“Hoje a obra está parada, tem muito mosquito, tem muito vizinho que joga lixo no parque. É muito mais fácil [o governo] finalizar uma obra em um bairro nobre e mostrar para todo mundo, do que fazer algo na favela”, reflete.

Popularmente conhecido como Macarrão pelas ruas da favela, Emerson de Abreu, 50, é ex-conselheiro tutelar, líder comunitário e candidato a vereador pelo PT.

Ele afirma que, nos últimos meses, se intensificaram as queixas em relação ao encontro de escorpião e mosquito Aedes Aegypti no Parque da Cidadania de Heliópolis.

Emerson de Abreu, líder comunitário na pista que seria para caminhada, mas a área está cheia de lama @Isabela do Carmo /Agência Mural

“O Governo do Estado veio aqui, apresentou na mídia como se o parque já estivesse pronto, o que na verdade não houve”, conta Macarrão.

‘Alguns moradores passaram a me procurar com vídeos, em que mostravam água parada com possibilidade de dengue, mato alto e lixo. O pessoal começou a reclamar do aparecimento de escorpião’

Macarrão, líder comunitário em Heliópolis

Para Macarrão, há um descaso do governo estadual em relação às periferias. “Não importa se um menino daqui pode ter a chance de praticar um esporte e ser um atleta no futuro, o governo joga contra ao esporte, ao lazer, ao espaço saudável de vida nas favelas.”

ENTENDA O PROJETO

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O empreendimento reuniu diversos órgãos do Governo do Estado de São Paulo, além da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico) e CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano).

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Dois anos após o início das obras, o terreno – situado paralelo à uma série de residências e comércios – segue abandonado. Com acúmulo de lixo, poças d’água e mato elevado.

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O espaço foi doado pela Sabesp. Os serviços de terraplanagem e contenção foram executados pelo Instituto CCR, por intermédio da negociação do FUSSP (Fundo Social de São Paulo) – entidade responsável pela administração das obras.

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Com execução faseada em quatro etapas, o primeiro parque da maior favela de São Paulo tinha como proposta “aprimorar as condições de habitabilidade, salubridade e acessibilidade para famílias” da região, segundo o FUSSP.

 

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A última publicação oficial sobre o Parque no site da entidade é de fevereiro de 2022, mostrando alguns “antes e depois” da obra, que, desde então, não tem avançado.

Na sequência da conclusão da segunda fase das obras, prevista para o segundo semestre 2023, estariam prontas as Escolas de Qualificação Profissional, Fábrica de Cultura, Escola de Circo, Auditório e Anfiteatro.

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O investimento prometido é de R$ 40 milhões. As obras da primeira fase deveriam ser entregues no primeiro semestre de 2022, com a disponibilização completa de equipamentos esportivos, pistas de caminhada, iluminação, paisagismo e mobiliário.

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No terreno de 67.000 m², haveria ainda duas quadras de futebol society, duas meias quadras de basquete 3×3, uma quadra de vôlei, uma pista de skate, uma academia ao ar livre, oito praças de alongamento, quatro praças de piquenique e um pequeno parque infantil. Além de edificações destinadas às atividades de cultura e de profissionalização.

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Propostas essas que, no entanto, acumulam o atraso de mais de dois anos na entrega.

No local há pedras amontoadas e um trator parado @Isabela do Carmo /Agência Mural

A quadra de futebol está inacabada @Isabela do Carmo /Agência Mural

Os aparelhos para ginástica estão no meio da lama @Isabela do Carmo /Agência Mural

A reportagem da Agência Mural questionou sobre o motivo da paralisação e atraso nas obras do Parque da Cidadania de Heliópolis. Em resposta, a Sabesp e o Fundo Social de São Paulo pontuaram:

“A Sabesp informa que está elaborando projetos para complementação das obras necessárias para conclusão das estruturas de áreas verdes, sanitários, portarias e prédio para equipes de manejo, manutenção e segurança. Paralelamente, o Governo do Estado está definindo as responsabilidades pela operação do futuro Parque da Cidadania.”

Também questionadas sobre as divisões das atribuições da construção do Parque da Cidadania de Heliópolis, novo prazo de entrega e se a privatização da Sabesp afetará o andamento das obras, ambas organizações não responderam.

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Isabela do Carmo

Graduanda em jornalismo pela UAM, com bolsa integral pelo ProUni. Atua na produção de reportagens com foco em diversidade e inclusão, cidadania e direito à cidade. É correspondente do Heliópolis desde 2023.

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