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Agência de Jornalismo das periferias

Divulgação/ Twerk de Quebrada

Por: Barbara Paula | Isabela Alves

Notícia

Publicado em 22.01.2025 | 16:28 | Alterado em 23.01.2025 | 11:58

Tempo de leitura: 3 min(s)

“O Twerk é um resgate. É conhecer o seu corpo, se conectar, entender as suas possibilidades e limitações e se desafiar. A dança superou a estética vulgar que a sociedade tentava colocar nela e se tornou uma possibilidade de se encontrar”. É assim que a multiartista Beatriz Aparecida Dos Santos Graboschi, 27, define o Twerk, estilo de dança ligado ao rebolado, que vem ganhando espaço entre as jovens.

De Ermelino Matarazzo, da zona leste de São Paulo, ela é fundadora do Twerk na Quebrada, um projeto que promove aulas de dança do estilo, nas quais mulheres aprendem a movimentar os quadris.

A dança sensual se tornou famosa nas boates de striptease nos Estados Unidos e foi popularizada em outros países pela cantora Miley Cyrus, em 2013, após ela postar um vídeo rebolando ao som de “We Can’t Stop”, dando à dança o nome de Twerk. No mesmo ano, a palavra foi adicionada ao Dicionário Oxford como um verbo: “dançar música popular com o corpo curvado e os quadris movendo-se para frente e para trás”.

Aula do Twerk de Quebrada. Pelo menos 500 mulheres já passaram pelo projeto @Divulgação/ Twerk de Quebrada

Mas a dança vai muito além da definição e o estilo existe desde muito antes de ser incluído no dicionário. Danças que estimulam o movimento na região pélvica têm origem africana, no Congo, com o estilo Mapouka, e jamaicana com o estilo DanceHall.

Ainda assim, no início do ‘boom’ do Twerk de 2013, a percepção popular foi de que apenas as mulheres brancas e magras conheciam o estilo e faziam os movimentos. Para romper com essa ideia, resgatar a ancestralidade negra do ritmo e empoderar as mulheres das periferias, o Twerk da Quebrada desenvolveu sua própria metodologia e busca fazer aulas diferentes das demais academias.

“Estamos ali para aprender uma técnica. Muitas falam que não podem por ter problema no joelho, que o vizinho vai falar ou que o marido não deixa. Juntas vamos quebrando estas estruturas”.

Ao rebolar, as alunas lidam com questões de autoestima, mas também refletem sobre o machismo, racismo e outras violações a que os corpos femininos são suscetíveis. Ao enfrentar os medos dos julgamentos, a dança proporciona um momento de conforto e confiança entre as mulheres que estão no estúdio.

“Eu mesma tinha preconceito. Desde pequena, eu era a criança que dançava nas festas, mas se as mulheres paradas na rua, de calça jeans, já sofrem [assédio], imagina usando um shortinho, topzinho e jogando a bunda? Eu tive medo de explorar esse lugar mais sensual”, diz Floreny Fregone, aluna há pelo menos dois anos.

O início de um sonho

O coletivo nasceu em 2019, com suas primeiras aulas na Ocupação Matheus Santos, um espaço que promove a arte periférica, em Ermelino Matarazzo. Em 2020, ao lado do coletivo de mulheres Labutas da Xana, Beatriz teve a oportunidade de levar as aulas para os espaços culturais das periferias de São Paulo, através do programa de fomento a artistas VAI.

‘Twerk é conhecer o seu corpo e se conectar consigo, diz a professora Beatriz Aparecida dos Santos Graboschi @Divulgação/ Twerk de Quebrada

Com a pandemia de Covid-19, as aulas ocorreram de forma on-line e alunas de outros países, como a Irlanda e Argentina, começaram a participar. Atualmente, o grupo promove as aulas todas às terças, às 19h, no espaço Porão Cultural, próximo ao metrô Marechal Deodoro, na Barra Funda, região central da capital paulista.

A professora optou por se encontrar no centro para reunir as alunas de todos os extremos da cidade. Até o momento, mais de 500 mulheres já participaram das aulas.

Os desafios de viver da arte

Beatriz se formou em Educação Física, em 2017. Ao mesmo tempo em que o curso abriu a ela novas possibilidades de trabalho, ele permitiu que a dançarina ganhasse maior consciência corporal e pudesse desenvolver sua própria técnica e metodologia.

Twerk tem origem africana, no Congo, com o estilo Mapouka, e jamaicana com o estilo DanceHall @Divulgação/ Twerk de Quebrada

“É muito complicado trabalhar com a dança no Brasil, porque a gente não é valorizado. As pessoas acham que o professor só trabalha durante aquela uma horinha [de aula], quando na verdade trabalhamos praticamente o dia todo, planejando, pensando no aluno e nas possibilidades de adaptações. Existe todo um trabalho por trás daquela uma hora”, conta.

A professora explica que se especializou no Twerk com a dançarina Lara Barcelos, em 2018. As aulas buscam estimular a consciência do movimento no corpo e incentivar mulheres a dançar, mesmo sem ser profissionais.Uma delas é a aluna Floreny Fregone:

“Infelizmente, na dança muitos julgam seu corpo e até sua roupa. No Twerk da Quebrada, não. As [alunas] mais experientes ficam na frente para que as outras possam se inspirar e aprendemos juntas”.

Inclusive por isso, as aulas são destinadas apenas às mulheres, para construir um espaço seguro entre elas. “É necessário que a gente saiba que sim: somos bonitas, somos gostosas. Vamos dançar com a bunda de fora e está tudo bem”, conclui Beatriz.

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Barbara Paula

Jornalista, comunicadora e modelo. Apaixonada por moda, poesia, fotografia, arte e cinema. Uma geminiana, humanista e ovolactovegetariana muito falante e risonha. Correspondente de Capão Redondo desde 2023.

Isabela Alves

Graduada em jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e pós graduanda em Mídia, Informação e Cultura pelo Celacc/USP. Homenageada no 1° Prêmio Neusa Maria de Jornalismo. Correspondente do Grajaú desde 2021.

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