Guynever Maropo/Agência Mural
Por: Guynever Maropo
Notícia
Publicado em 06.08.2025 | 11:46 | Alterado em 06.08.2025 | 11:46
A discussão sobre a redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6×1 se tornou pauta de diversos movimentos sociais nos últimos meses. Em Suzano, a discussão chegou com força aos coletivos LGBTQIA+ da cidade do Alto Tietê, na Grande São Paulo.
Grupos do município passaram a defender mudanças estruturais no mundo do trabalho, destacando que a escala 6×1 afeta de forma desproporcional a população periférica.
“Todos os LGBTs aqui são trabalhadores ou gostariam de ser, mas com dignidade. A escala 6×1 afeta diretamente a nossa comunidade, que já é uma das mais marginalizadas e exploradas”, afirma Lilian Santos, coordenadora da Frente LGBTQIA+ de Suzano.

Trio elétrico com banner em evidência com os dizeres ‘A revolta é periférica’ @Guynever Maropo/Agência Mural
A defesa por condições de trabalho mais justas esteve entre os destaques da 4ª edição da Parada LGBTQIA+ da cidade, realizada nas últimas semanas.
Com o tema “A revolta é periférica – trabalhe menos, trabalhe todes, produza o necessário e redistribua tudo”, o evento reuniu centenas de pessoas em um ato que combinou celebração e protesto.
Além disso, a pauta deste ano trouxe demandas alinhadas a discussões em andamento no Congresso, como o fim da escala 6×1, a taxação dos super-ricos e a ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
Para os organizadores, a luta por dignidade vai além da identidade de gênero e da orientação sexual.
PEC da escala 6×1
Uma proposta de emenda constitucional apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP) quer limitar a jornada atual para 36 horas semanais, com no máximo 8 horas diárias.
O modelo atual, no qual o descanso remunerado ocorre apenas aos domingos, é comum entre trabalhadores do comércio e de serviços. Segundo levantamento do Instituto de Economia da Unicamp, a medida pode beneficiar diretamente 37% dos trabalhadores com carteira assinada no Brasil.
A rotina imposta por esse modelo de trabalho tem afetado o bem-estar físico e emocional de trabalhadores da periferia, especialmente da comunidade LGBTQIA+. O vendedor Kleber Grime, morador de Suzano, quase não conseguiu participar do evento.
Ele tem apenas duas folgas por mês, uma em um domingo e outra em um sábado. Atualmente, trabalha em uma escala pesada, são 13 dias seguidos de expediente para descansar apenas um. Ele acredita que o mínimo deveria ser o modelo 6×1, que está em debate para ser reduzido.

Jovem com bandeira da comunidade LGBT e símbolo do Brasil @Guynever Maropo/Agência Mural
“Trabalho todos os dias, das 6h às 14h20. Mas se não consigo fechar o pedido, tenho que fazer hora extra… Então, se você não trabalhar no domingo, você tá queimado na empresa”, relata.
Migrante do Nordeste, o costureiro Rawenne Santos compartilhou o sentimento de frustração de quem chega a São Paulo em busca de uma vida melhor, mas se depara com uma rotina cansativa.
‘A 6×1 é uma realidade muito pesada pra quem vem do Nordeste. A gente não tá acostumado com isso. Chega em São Paulo achando que vai ter uma vida melhor, mas acaba só trabalhando sem parar’
Rawenne, costureiro
Para Nathy Kaspeer, presidente da ONG Para Todos e coordenadora do coletivo Canal das Pessoas Trans, a escala 6×1 precisa ser revista com urgência. Além disso, ela defende que a inclusão da comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho vá além dos discursos simbólicos.
“O trabalho é essencial, mas essa escala atual é desumana. É preciso rever as leis e reestruturar o sistema de forma justa”, afirma.
Nathy também criticou a falta de ações específicas para pessoas trans no Alto Tietê, região composta por 12 municípios. Segundo ela, ainda não há políticas públicas voltadas para essa população.
“Nós existimos, estamos aqui e queremos políticas públicas. Queremos dignidade como qualquer ser humano. Cabe a nós, como sociedade civil, mostrar que queremos dignidade, voz e presença nos espaços”, conclui.
A Parada deste ano foi organizada pela Frente LGBTQIA+ de Suzano, que denunciou a falta de apoio institucional por parte da prefeitura. Segundo o coletivo, a gestão municipal se recusou a assinar um documento necessário para a captação de recursos.
Em nota, a administração do prefeito Pedro Ishi (PL) alegou que não recebeu ofícios formais e afirmou que a responsabilidade pela realização do evento cabe à organização civil.
A prefeitura destacou ainda que prestou apoio apenas na segurança e na operação do evento, como ocorre em outras manifestações públicas da cidade.
Jornalista com experiência em veículos impressos e digitais, pós-graduanda em marketing digital. Ariana com ascendente em cervejinha e samba. Amo contar histórias, ouvir gente e fotografar tudo
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